Sumário executivo


Verifica-se atualmente uma “revolução móvel” que pode ser descrita por três pilares distintos que se complementam. São estes (1) o crescente desenvolvimento dos equipamentos móveis que permitem aceder à internet em qualquer lugar (como os smartphones 1 ou os tablets 2, entre outros); (2) o aumento das ofertas com maiores velocidades associadas à banda larga móvel, disponibilizadas pelos prestadores deste serviço; (3) o número crescente de aplicações associadas aos acessos móveis à internet e; (4) a crescente procura de acesso em qualquer lugar em qualquer momento.

Note-se que, de acordo com IDATE (2011), em Julho de 2011, a penetração da banda larga móvel por habitante em Portugal (36,5 por cada 100 habitantes) era superior à média da União Europeia (UE27) (34,6 por cada 100 habitantes). Esta posição favorável resulta da taxa de subscrição dos acessos por pen USB, já que essa penetração era de cerca de 11,1 por cada 100 habitantes, para Portugal, comparativamente com 7,5 por cada 100 habitantes para a UE27.

Importa analisar de que forma é que atualmente os utilizadores de internet móvel valorizam os serviços de banda larga móvel, a fim de melhor monitorizar e regular o desenvolvimento deste mercado. Esta análise compreende também o acesso fixo à internet, nomeadamente em termos do seu impacto na utilização da internet móvel.

Neste contexto, o presente estudo analisa os padrões de utilização da banda larga móvel em Portugal, nomeadamente em termos de frequência de acesso e modos de utilização, bem como dos tipos de atividades desenvolvidas discriminadas por forma de acesso, seja por recurso de pen USB, seja por telemóvel (tipo smartphone).

Foi realizado um inquérito amostral, executado por uma empresa de estudo de mercado para o ICP-ANACOM, entre meados de Junho e meados de Julho de 2011, à população residente em Portugal, com 15 anos ou mais, composto por uma amostra de 3 076 inquiridos.

Destacam-se as seguintes conclusões:

  • Nos utilizadores exclusivamente com um meio de acesso à internet, o acesso fixo é a plataforma de acesso mais utilizada. Este resultado sugere que, para este grupo de utilizadores, há outros fatores, como a velocidade e o tráfego, que podem estar a ser mais valorizados do que a mobilidade, na escolha da plataforma de acesso à internet. Assim, cerca de metade dos utilizadores com internet fixa dispunham exclusivamente deste meio de acesso, quando nos acessos móveis por pen USB essa proporção era de um terço e nos acessos por telemóvel não ascendia aos 10%.
     
  • Quanto à utilização de mais que uma plataforma de acesso à internet, a utilização mais comum é, mais uma vez o acesso fixo com outro tipo de acesso móvel e mais especificamente acesso fixo e pen USB. Por sua vez, somente uma pequena proporção de inquiridos dispõe dos três meios de acesso à internet. Em Analysys Mason (2010) refere-se que, na generalidade dos países da Europa Ocidental considerados nesse estudo, a banda larga móvel é considerada como um segundo acesso, complementar à banda larga fixa, em vez de ser utilizada como primeiro acesso.
     
  • Entre os indivíduos que dispõem de acesso fixo e pen USB, privilegia-se a utilização do acesso por pen USB, como seria de expectável, principalmente fora de casa. Não obstante, as atividades mais acedidas a partir desses meios de acesso à internet são comuns, destacando-se o acesso ao correio eletrónico, a pesquisa de informação para vários fins (escola, trabalho ou em lazer) e a conversação em linha.
     
  • No total de utilizadores com pen USB, cerca de 18,3% adquiriu o serviço num pacote de serviços 3 e nestes, um em cada sete costuma ultrapassar o limite de tráfego oferecido pelo prestador de serviços. Apurou-se também que cerca de um terço dos utilizadores aos quais foi oferecido o acesso por pen USB não utiliza esse serviço, sendo as principais razões apontadas o não sentir necessidade (44,6%), o acesso atual ser suficiente (33,2%) e o limite de tráfego incluído na oferta da pen USB (13,4%).
     
  • Quanto aos locais de utilização da pen USB, entre os utilizadores com exclusivamente esse acesso, a utilização principalmente em casa ou sempre em casa corresponde a 76,4%, ao passo que quando o utilizador também dispõe de um acesso fixo, a utilização da pen USB nestas condições diminui para 17,2%. Inversamente, a utilização principalmente fora de casa e exclusivamente fora de casa da pen USB aumenta de 22,6% para 80,6%, respetivamente quando o utilizador não tem acesso fixo e quando também tem acesso fixo. Assim, a opção por acesso exclusivo de pen USB para uma utilização exclusivamente fora de casa poderia ser atribuída a uma sobrevalorização da mobilidade inerente ao serviço, ainda que não utilizada, ou a fatores de ordem comercial, nomeadamente a existência de planos recarregáveis sem necessidade de carregamentos obrigatórios, que no caso dos acessos fixos, apenas parecem estar disponíveis para clientes empresariais.
     
  • Quanto aos motivos de escolha do prestador de serviços, a opção “sem razão especial” (20,0%) foi a mais referida pelos utilizadores com pen USB, seguida do preço (18,2%). No caso do acesso à internet por telemóvel, a escolha do prestador de serviços resultou principalmente de o utilizador já ser cliente de voz do prestador em causa (67,0%).
     
  • A principal razão apontada pelos utilizadores com acesso fixo para a escolha do atual prestador de serviços foi a adesão a um pacote de serviços (42,2%), seguida do preço (28,9%). Tal resultará da crescente aposta dos prestadores de serviços nos pacotes de serviços, refletida no crescente de ofertas de banda larga incluídas em pacotes, no total de ofertas de banda larga (essa proporção passou de 63% para 80%, entre 2009 e 2010).
     
  • Apurou-se uma maior satisfação média com o acesso fixo à internet, do que com acessos móveis, confirmando-se o que já se havia apurado em ANACOM (2011c), com base nos dados do ECSI 2010 sobre as comunicações eletrónicas. Adicionalmente constatou-se que a utilização de um acesso fixo e de um acesso por pen USB pelo utilizador, influi negativamente na satisfação que este tem do acesso por pen USB, quer na satisfação geral, quer na satisfação com o limite de tráfego e com o preço pago pelo serviço 4. Inversamente, a utilização do acesso fixo e de acessos móveis, seja por pen USB e ou por telemóvel, pelo mesmo utilizador, influi positivamente na satisfação que este tem sobre a velocidade e o preço pago pelo acesso fixo.
     
  • Quando se analisam intenções de mudança de tipo de acesso, a internet fixa parece ser mais valorizada do que a internet móvel, especialmente no caso de o utilizador ter um acesso por pen USB. Isto tendo em conta que: (1) entre os atuais utilizadores de internet, existem mais inquiridos que desistiram do acesso por pen USB do que do acesso fixo 5; (2) a proporção de utilizadores que pretende desistir do atual acesso à internet é maior no caso dos acessos móveis (no acesso por pen USB é de 12,7%, no acesso por telemóvel é de 5,6% e no acesso fixo é de 3,5%) e; (3) a intenção de troca entre acesso fixo à internet e acesso por pen USB é bastante maior nos inquiridos com pen USB - um terço dos inquiridos com pen USB pretende trocar para um acesso fixo, comparativamente com um décimo com acesso fixo que refere pretender desistir em favor do acesso móvel. De referir também que é nos inquiridos mais insatisfeitos com o serviço em geral que existe uma maior intenção de desistir do atual acesso, conforme seria expectável.
     
  • Ainda que a satisfação geral com o preço do atual serviço de acesso à internet seja boa, os preços elevados foram a principal causa referida pelos inquiridos (53,4% no acesso por telemóvel, 42,4% na pen USB e 33,2% no caso do acesso fixo) para pensarem desistir do meio de acesso à internet.
     
  • Os utilizadores reconhecem que a velocidade da banda larga móvel é menor e o preço é mais caro, que na banda larga fixa, mas também concordam que a confiança quanto a estes dois meios de acesso à internet é idêntica.
     
  • Finalmente, com base nos diversos resultados apurados neste estudo, constata-se, como seria expectável, que há uma utilização mais similar entre acessos fixos e acessos por pen USB do que entre acessos fixos e acessos por telemóvel – esta evidência resultará tanto das ofertas retalhistas existentes no mercado associadas a cada meio de acesso à internet, como também das características dos acessos em si.

Notas
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1 A tradução de smartphone na língua portuguesa é telemóvel inteligente. Neste documento é utilizada a designação em inglês, por ser aquela mais comummente utilizada no mercado português.
2 A tradução de tablet é prancheta, mesa digitalizadora ou tablete. Neste documento é utilizada a designação em inglês, por ser aquela mais comummente utilizada no mercado português.
3 A generalidade das ofertas de pacotes de serviços que incluem internet móvel por pen USB disponibilizam este serviço como sendo gratuito até aos 100 Mbps. Quando o utilizador ultrapassa o limite de débito definido, terá de pagar pelo acréscimo de débito ultrapassado.
4 Este resultado é válido, independentemente de o inquirido também ter, ou não, acesso por telemóvel à internet.
5 No conjunto dos inquiridos com acesso à internet, verificou-se que cerca de 41,7% já havia tido uma pen USB e desistiu desse meio de acesso, comparativamente com 27,6% no caso dos acessos fixo e 16,8% nos acessos por telemóvel.