Enquadramento Macroeconómico


/ Atualizado em 08.05.2007

A economia portuguesa em 20041https://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=55129

A actividade económica portuguesa registou uma recuperação em 2004, tendo-se observado um novo aumento do endividamento das famílias2https://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=55130, num contexto de taxas de juro a níveis muito baixos, e um agravamento assinalável das contas externas. As necessidades de financiamento do sector público mantiveram-se ligeiramente abaixo de 3 por cento do produto interno bruto (PIB).

O PIB português registou um crescimento, em termos reais, de 1,1 por cento em 2004, depois de uma redução de 1,1 por cento em 2003. Em termos intra-anuais, verificou-se uma fase de clara recuperação até meados do ano e posteriormente um período de forte desaceleração, atribuído a um enfraquecimento do investimento e, principalmente, das exportações. Esta evolução é semelhante à verificada no conjunto da área do euro, estando em parte relacionada com a evolução do preço do petróleo e da taxa de câmbio.

A variação do PIB foi, pelo terceiro ano consecutivo, inferior à verificada no conjunto da área do euro, que em 2004 atingiu 1,8 por cento, e bastante inferior à da economia mundial, que se terá situado em 5,1 por cento em 2004 (registando a taxa de crescimento da economia mundial mais elevada dos últimos 25 anos).

A recuperação da economia portuguesa foi liderada pela procura interna que apresentou um crescimento de 2,1 por cento (enquanto em 2003 tinha registado uma redução, em termos reais), verificando-se também uma descida da taxa de poupança dos particulares e das empresas (no caso dos particulares, esta taxa terá diminuído 1,5 pontos percentuais (p.p.). O consumo privado registou um crescimento de cerca de 2,5 por cento em termos reais, recuperando face à ligeira redução registada em 2003, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) apresentou um crescimento de 1,3 por cento, após as perdas registadas em 2002 e 2003. As exportações apresentaram um crescimento de 5,2 por cento, acelerando 0,7 p.p. face ao ano anterior3https://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=55131, enquanto as importações cresceram 7,4 por cento, após uma ligeira queda em 2003. O resultado foi um contributo líquido mais negativo do sector externo para o crescimento do PIB e uma acentuada deterioração do défice conjunto das balanças correntes e de capital (que aumentou de 3,3 por cento do PIB em 2003 para cerca de 5,9 por cento em 2004), afectado também por uma perda de termos de troca decorrente do aumento do preço do petróleo.

Em 2004, verificou-se uma estabilização do emprego (que registou um aumento de 0,1 por cento), após uma diminuição de 0,4 por cento em 2003. A taxa média de desemprego aumentou para 6,7 por cento, traduzindo um aumento de 0,4 p.p. face ao valor médio observado em 2003.

A inflação média anual, medida com base no Índice de Preços no Consumidor (IPC), reduziu-se de 3,3 por cento em 2003 para 2,4 por cento em 2004. Em termos de evolução anual, a inflação manteve-se relativamente estável em torno dos valores registados no final de 2003. A descida da taxa de inflação média em Portugal traduziu-se numa redução equivalente do diferencial face ao conjunto dos países da área do euro (o diferencial de inflação reduziu-se de 1,2 para 0,4 p.p.), dado que na área do euro o crescimento dos preços se manteve estável em relação a 2003.

Em 2004, o défice público situou-se em 2,9 por cento do PIB, valor igual ao registado em 2003. Apesar do forte crescimento das receitas fiscais, as subidas na despesa pública travaram os progressos em termos de consolidação orçamental. O objectivo de manter o défice abaixo do valor de referência levou à transferência para o sector público das responsabilidades relacionadas com pensões de 4 empresas públicas (Caixa Geral de Depósitos, Navegação Aérea de Portugal, Aeroportos de Portugal e Imprensa Nacional Casa da Moeda), com um efeito no saldo das administrações públicas equivalente a 2,3 por cento do PIB. Sem esta operação extraordinária, à semelhança do sucedido em 2002 e 2003, o défice público de 2004 teria excedido o valor de referência de 3 por cento do PIB, situando-se em 5,2 por cento do PIB.

As taxas de juro mantiveram-se em níveis muito baixos em 2004. As taxas de câmbio reflectiram o fortalecimento do euro ao longo de 2004, quer em termos efectivos, quer em relação ao dólar.

Apresenta-se de seguida um quadro resumo da evolução dos indicadores de actividade económica de Portugal e respectiva comparação, para o ano de 2004, com os valores médios estimados para a área do euro, os quais reflectem na integra as previsões da Comissão Europeia.

Quadro 27 - Indicadores de actividade económica - Portugal e a área do euro
  Variação média anual - percentagem
PORTUGAL Área do euro
2001 2002 2003 2004 Média 2004
PIB a preços constantes 1,7 0,4 -1,1 1,1 2
Consumo privado 1,2 1 -0,1 2,5 1,3
Consumo público 3,9 1,7 0,3 0,8 1,7
Formação Bruta de Capital Fixo 0,8 -5,1 -9,9 1,3 2,1
Exportações (Bens e Serviços) 0,6 2,4 4,5 5,2 6
Procura interna 1,6 -0,5 -2,5 2,1 3,1
Importações (Bens e Serviços) 0,7 -0,5 -0,4 7,4 6,2
Criação de emprego 1,7 0,4 -0,4 0,1 0,6
Taxa de desemprego (*) 4 5 6,3 6,7 8,8
Índice harmonizado de preços no consumidor 4,4 3,7 3,3 2,5 2,1
Saldo do OGE, em percentagem do PIB -4,4 -2,7 -2,9 -2,9 -2,7

(*) Expressa em percentagem da população activa civil.
Fonte: Boletim Económico, Banco de Portugal, Primavera, 17-6-2005; Comissão Europeia, ?Previsão Económica?, Primavera de 2005

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1 De acordo com as estimativas do Banco de Portugal - Boletim Económico/ Primavera 2005.
2 O rácio de endividamento dos particulares em percentagem do rendimento disponível deverá atingir cerca de 117 por cento no final de 2004, 7 p.p. acima do valor registado no final de 2003.
3 Não obstante a forte recuperação das exportações de serviços, as exportações de mercadorias desaceleraram de forma acentuada, apresentando significativas perdas de quota de mercado.