Métodos de estimação da elasticidade-preço da procura


A elasticidade-preço da procura pode ser definida como uma alteração na quantidade consumida/procurada de um determinado produto ou serviço, na sequência de uma alteração do correspondente preço (Marshall, 1890). Em regra 1, aumentos do preço de um determinado produto ou serviço tendem a resultar em decréscimos do seu consumo, enquanto diminuições do preço tendem a ser acompanhadas por aumentos do consumo (naturalmente, dentro de certos limites, relacionados nomeadamente com a utilidade marginal decrescente do consumo e ou com o tempo disponível para efetuar o consumo).

Geralmente a elasticidade-preço da procura é classificada de acordo com os seguintes graus:

a) Procura elástica – quando a variação percentual da quantidade consumida é superior à variação percentual do preço;

b) Procura elástica unitária - quando a variação percentual da quantidade consumida é igual à variação percentual do preço;

c) Procura inelástica - quando a variação percentual da quantidade consumida é inferior à variação percentual do preço;

d) Procura perfeitamente elástica – quando a variação percentual da quantidade consumida é muito superior à variação percentual do preço;

e) Procura perfeitamente inelástica – quando a quantidade consumida permanece constante, não reagindo a alterações do preço.

Vários fatores podem contribuir para afetar a intensidade da elasticidade-preço da procura, nomeadamente a:

a) Existência de produtos substitutos - por exemplo, quando se analisa a elasticidade-preço da procura do serviço telefónico fixo (STF), é útil analisar-se em que medida o STF é substituto do serviço telefónico móvel (STM);

b) O rendimento disponível das famílias - quanto menor for o preço do produto e a frequência do seu consumo, em relação ao rendimento disponível das famílias, menor deverá ser a intensidade da elasticidade-preço da procura;

c) A necessidade do consumo – por exemplo, se o acesso ao STF for visto como absolutamente essencial por reformados e pensionistas que precisem de contactar mais frequentemente serviços de assistência médica em situações de emergência, é possível que a procura por parte desse grupo de clientes tenha tendência a ser pouco elástica;

d) Inércia face à mudança – por exemplo, os consumidores nos escalões etários mais avançados tipicamente mostram preferências mais conservadoras e uma maior inércia na resposta a alterações do preço, embora no caso de reformados e pensionistas com um baixo rendimento disponível, as restrições orçamentais possam contrariar essa inércia.

De uma forma geral, e sem entrar em detalhe (neste contexto irrelevante) no tocante às diferentes abordagens metodológicas possíveis para estimar a elasticidade-preço da procura, reconhecem-se comummente dois métodos para estimar essa elasticidade, um assente em dados históricos relativos ao consumo efetivo de um determinado produto ou serviço e outro suportado em dados de inquérito.

O ICP-ANACOM na citada deliberação de 09.06.2011, atendendo à nítida inexistência de informação suscetível de facultar a estimação da elasticidade de acordo com os métodos comummente referidos, apresentou outra abordagem, estimando a elasticidade com recurso a “benchmarking”, recorrendo a valores referidos em artigos científicos e outros documentos.

Notas
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1 Exceto em condições características de determinadas “anomalias”. Por exemplo, o efeito “Veblen” relaciona-se com certos bens de procura “ostensiva”, os quais se tornam mais procurados quando existe um aumento do preço, como por exemplo, automóveis de luxo e vestuário de alta-costura. No extremo oposto, o efeito “Giffen”, explica que quando determinados bens ocupando uma posição preponderante no consumo dos pobres - por exemplo o pão - sobem de preço, estes deixam de ter dinheiro disponível para consumir carne, pelo que passam a consumir ainda mais pão, apesar de o preço do pão ter aumentado.