III. Traçado Aéreo vs. Traçado Subterrâneo - Algumas vertentes a considerar


A ANACOM procurou identificar algumas das vertentes a considerar no respeitante aos traçados de cabos de comunicações, em dois tipos de metodologias, a saber: traçado aéreo e traçado subterrâneo.

  • Requisitos de Comparação ou Seleção

Para efeitos da comparação das diversas metodologias de construção, instalação e proteção de infraestruturas de redes de fibra ótica em termos dos seus custos importa considerar, não só, aqueles que são relativos ao investimento (CAPEX), como também, os que resultam da operação, manutenção e funcionamento (OPEX). Para tal, haverá que ter em conta qual a duração do ciclo de vida útil que se pretende garantir para aquelas infraestruturas.

No respeitante aos custos de investimento, as opções menos dispendiosas são necessariamente aquelas que fazem uso de infraestruturas aptas já existentes, que aproveitam no momento da instalação a circunstância de outra entidade pretender realizar uma obra de construção civil que permite partilhar e, consequentemente, reduzir estes custos ou que implicam a construção de infraestruturas acima do solo, nomeadamente, quanto aos cabos de comunicações em traçado aéreo.

Quanto à operação, manutenção e funcionamento importa considerar, para o tempo de duração do ciclo de vida da infraestrutura, os custos relativos à beneficiação e proteção, os quais no caso dos incêndios florestais incluem para as infraestruturas acima do solo os inerentes à limpeza e remoção da vegetação, bem como as rendas devidas à utilização de infraestruturas aptas ou de terrenos de outras entidades ou ainda a fornecimentos de bens e serviços. A estes custos haverá ainda que adicionar os custos de alteração das infraestruturas para o caso de ser necessário proceder a adaptações em consequência de mudança dos requisitos ou dos objetivos da infraestrutura não previstas durante o planeamento e, finalmente, os custos de recuperação e reparação resultantes de danos e outros prejuízos provocados, nomeadamente, pelos incêndios florestais e outros fenómenos extremos.

A perspetiva dos custos não esgota, porém, os requisitos para a comparação ou a seleção entre as diversas técnicas de construção e de instalação de infraestruturas de redes de fibra ótica no exterior.

Em conformidade com a UIT1, para efeitos de comparação ou seleção das tecnologias a utilizar em infraestruturas de telecomunicações, sustentáveis e de baixo custo, são identificados diversos requisitos, para além dos custos (CAPEX e OPEX), nomeadamente (i) fiabilidade; (ii) débito de dados; (iii) flexibilidade; (iv) escalabilidade; (v)  eficiência na alimentação de energia e (vi) impacto ambiental.

A UIT, na mesma recomendação, considera que a fiabilidade da solução deve ser melhorada tanto quanto possível para se adequar a ambientes mais agrestes.

  • Melhores Práticas de Construção em Traçado Subterrâneo

De acordo com a UIT, as melhores práticas ao nível das técnicas de construção e instalação de infraestruturas de redes de fibra ótica em traçado subterrâneo carecem da alteração e adaptação de alguns dos procedimentos e das metodologias que, tradicionalmente, são utilizados na construção e instalação das redes de condutas em cimento.

Após a instalação da infraestrutura de tubagem no subsolo, a cablagem de fibra ótica é soprada2, ou seja, o cabo de fibra deixa de ser puxado e esticado.

Em termos de planeamento, é de grande relevância a utilização de um Sistema de Informação Geográfico (SIG) com informação completa das infraestruturas de subsolo existentes na área que irá ser intervencionada, estando o Sistema de Informação de Infraestruturas Aptas (SIIA)3 particularmente adequado a esse objetivo. Em complemento, em especial para o caso de técnicas que não impliquem a abertura de vala, torna-se necessário proceder a uma análise prévia do subsolo, ao longo do trajeto pretendido, por recurso a radar de penetração no solo4,5.

As técnicas de construção e instalação das infraestruturas dividem-se em dois tipos, dependendo de ser necessário proceder a abertura de vala ou, em caso contrário, recorrer a uma tecnologia de perfuração ou prospeção do subsolo.

No respeitante às técnicas de abertura de vala, a escolha da técnica específica depende, entre outros aspectos, da intervenção ser feita em terreno asfaltado, ou seja, em estrada, ou em terra. A intervenção na rodovia, depende, entre outros, da articulação entre a entidade que pretende proceder à instalação da fibra com a entidade que regule o acesso ao bem de domínio público, a estrada. Novamente, o SIIA está especialmente focado para facilitar esta articulação. Quanto às técnicas designam-se por micro vala (micro trench)6 ou por mini vala (mini trench)7, ambas especialmente dirigidas para a intervenções em terreno asfaltado. A intervenção em espaço urbano no respeitante à utilização de técnicas de abertura de vala com impacto reduzido é também objeto do trabalho da UIT-T8.

No respeitante às técnicas de instalação em subsolo, a sua utilização é frequente em caso de se pretender ultrapassar por atravessamento a uma cota inferior de um obstáculo, como por exemplo uma estrada ou um rio, se bem que a sua utilização seja mais geral do que nesses casos. As técnicas utilizadas recorrem a métodos de prospeção, caso da prospeção horizontal dirigida, ou de perfuração, mediante o recurso a metodologia de percussão dirigida9.

Notas
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1 Recommendation ITU-L L.1700 (06/2016) - Requirements and framework for low-cost sustainable telecommunications infrastructure for rural communications in developing countries.
2 Recommendation ITU-T L.57 (05/2003) / L.156 (02/2016) - Air-assisted installation of optical fibre cables.
3 Sistema de Informação de Infraestruturas Aptas (SIIA)https://www.anacom.pt/render.jsp?categoryId=384520.
4 Recommendation ITU-T L.39 (05/2000)/L.257 (02/2016) - Investigation of the soil before using trenchless techniques.
5 Recommendation ITU-T L.84 (07/2010) / L.260 (02/2016) - Fast mapping of underground networks.
6 Recommendation ITU-T L.49 (03/2003) / L.154 (02/2016) - Micro-trench installation technique.
7 Recommendation ITU-T L.48 (03/2003) / L.153 (02/2016) - Mini-trench installation technique.
8 Recommendation ITU-T L.155 (11/2016) - Low impact trenching technique for FTTx networks.
9 Recommendation ITU-L.38 (09/99)/L.152 (02/2016) - Use of trenchless techniques for the construction of underground infrastructures for telecommunication cable installation.