COVID-19 provoca alterações muito significativas na utilização das comunicações em 2020


A utilização dos serviços de comunicações em 2020 ficou marcada pelo grande aumento do tráfego de dados, da penetração dos serviços digitais over-the-top (OTT) e do tráfego de encomendas resultante da alteração de hábitos provocada pela COVID-19. Os consumos de SMS e correspondência prosseguiram uma tendência de decréscimo mais acentuada. Estas são as principais conclusões resultantes da monitorização de proximidade ao sector levada a cabo pela ANACOM no contexto da pandemia de COVID-19 e que consta do relatório “COVID-19: Impacto na utilização dos serviços de comunicaçõeshttps://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=1603793”, hoje divulgado.

A análise feita neste relatório abrange informação muito diversificada sobre 2020 e permite fazer um balanço sobre os efeitos e alterações no consumo dos serviços de comunicação naquele que foi um ano de viragem. Com este relatório a ANACOM pretende ainda contribuir para uma melhor compreensão societal das adaptações e respostas surgidas perante a pressão causada pela pandemia, evento disruptivo de recorte único nos últimos 100 anos.

Em 2020, o tráfego médio de dados fixos por acesso aumentou 55%. Estima-se que, devido à pandemia de COVID-19, este tenha tido um incremento de 36,3% face à tendência histórica (sendo maior no 2.º trimestre do ano com +40,2%). Caso não tivesse ocorrido a pandemia, estima-se que o crescimento teria sido de 19,3% em comparação com 2019.

Entre os usos das comunicações eletrónicas destaca-se o aumento da proporção de indivíduos que utilizaram a Internet para telefonar ou fazer chamadas de vídeo através de OTT, que passou de 52,5% em 2019 para 70,5% em 2020, um salto de 18 pontos percentuais. A comunicação na área da educação através de um website (30,8%), a TV pela Internet (43,4%) e o envio de instant messaging (89,9%) foram outros dos serviços OTT com maior crescimento.

No caso do tráfego de encomendas registou-se um aumento de 20% em 2020, superior ao registado em 2019 (+14,1%). O crescimento do tráfego de encomendas também terá estado associado ao confinamento da população nas suas residências. Com efeito, o comércio eletrónico sofreu o maior aumento dos últimos anos, de acordo com o INE, reflexo do confinamento da população e do encerramento de estabelecimentos comerciais. Em 2020, cerca de 45% dos indivíduos referiu ter utilizado o comércio eletrónico nos 12 meses anteriores à entrevista, mais 5,8 p.p. que em 2019 e o maior aumento registado até ao momento. O «vestuário e calçado» (60%), as «refeições entregues ao domicílio» (38%) e os «computadores, tablets, telemóveis, equipamento informático complementar ou acessórios» (37%) foram os principais produtos físicos encomendados pela Internet em 2020. Os dois últimos produtos, foram os que mais cresceram face ao ano de 2019 (+9 e +11 p.p., respetivamente).

A COVID-19 provocou igualmente um aumento das comunicações de voz tradicionais. O tráfego de voz móvel por acessos cresceu 16,4% em 2020. Estima-se que devido ao efeito da COVID-19, este tipo de tráfego tenha aumentado 11,9% face à tendência histórica (sendo maior no 2.º trimestre de 2020 com +15,9%). Caso não tivesse ocorrido a pandemia, estima-se que o crescimento teria sido de 6,0% face a 2019. O tráfego médio de voz fixa por acesso aumentou 7,0% em 2020. Estima-se que a COVID-19 tenha provocado um aumento de 22,2% em comparação com a tendência histórica (sendo superior no 2.º trimestre de 2020 com +30,4%). Caso não tivesse ocorrido a pandemia, estima-se que este tráfego teria diminuído 12,2% em comparação com o ano anterior. De referir que o tráfego de voz fixa se encontrava em queda desde 2014.

Em contrapartida, as alterações dos comportamentos de consumo resultantes da COVID-19 acentuaram a diminuição do tráfego de SMS, que já estava em queda devido ao aparecimento de formas de comunicação alternativas.

O número total de acessos em local fixo não aparenta ter sido afetado pela pandemia. No entanto, em determinados segmentos específicos, identificaram-se eventuais efeitos das medidas excecionais e extraordinárias. Por exemplo, no 2.º trimestre de 2020 registou-se, uma desaceleração da tendência de queda do número de assinantes do serviço de distribuição de sinais de TV por subscrição suportados em TV por satélite (DTH) e ADSL.

No caso dos acessos móveis, o número de acessos móveis pós-pagos e híbridos registou uma ligeira diminuição nas primeiras seis semanas do período de pandemia. Esta diminuição foi mais acentuada no segmento não residencial. Posteriormente, os acessos móveis não residenciais diminuíram também durante o mês de agosto, embora de forma menos acentuada. Também o número de utilizadores de Internet móvel registou um decréscimo em 2020, contrariando a tendência de crescimento que se vinha a verificar nos últimos anos. Por efeito da pandemia, estima-se que o número de utilizadores de Internet móvel diminuiu 4,2% em 2020.

O tráfego de serviços postais também diminuiu (-12,4% face ao ano anterior). Estima-se que a pandemia tenha tido um efeito negativo de 9,8% neste tráfego durante o ano de 2020. Caso não tivesse ocorrido a pandemia, estima-se que o tráfego postal total teria descido 2,9%.