No dia 17 de Maio de cada ano, a UIT celebra o Dia Mundial das Telecomunicações para comemorar a sua fundação em Paris em 1865. Este ano, escolhemos um tema importante e oportuno para o evento - O Comércio das Telecomunicações.
Eu digo oportuno, porque 1998 será recordado como o ano no qual as telecomunicações se transformaram, e deixaram de ser um sector dominado largamente por prestadores de serviços monopolistas controlados pelo Estado, operando em mercados locais fechados, para se converterem num mercado liberalizado, no qual competem livremente entre si os vários operadores, oferecendo uma vasta gama de serviços aos consumidores em todo o mundo.
A liberalização do mercado está agora verdadeiramente entre nós, mas ainda não se sabe o que tal significa em última instância para a indústria das telecomunicações. Enfrentamos um futuro incerto e imprevisível, que oferece desafios e oportunidades tanto para operadores institucionais das telecomunicações como para os novos intervenientes.
Os operadores tradicionais, geralmente empresas estatais ou recentemente privatizadas, certamente enfrentarão um período de "choque cultural" à medida que se defrontam com a nova envolvente competitiva. Mas a experiência mostra que estas empresas não têm nada que temer face a um mercado totalmente liberalizado. Os operadores que já sofreram o choque da perda da sua posição monopolista constataram na prática que trocaram a quota de mercado por lucros acrescidos. A competição estimula o crescimento.
Entretanto, novos operadores podem começar a sentir que enfrentam uma árdua batalha contra o mercado tradicional estabelecido, que normalmente tem uma forte base económica e a vantagem da confiança do consumidor. Estes novos intervenientes são normalmente mais flexíveis, mais inovadores e mais receptivos face às necessidades dos consumidores. Para aqueles que conseguiram alcançar uma quota no mercado das telecomunicações crescentemente lucrativo, as recompensas prometem ser excelentes.
Os ventos de mudança que agora sopram no mundo das telecomunicações são necessários para o desenvolvimento de uma economia verdadeiramente global, na qual todos os países possam participar como parceiros em igualdade. À medida que dependemos cada vez mais das telecomunicações na nossa vida diária - no mundo do trabalho, certamente, mas cada vez mais também nas nossas vidas pessoais - queremos comprar serviços mais competitivos ao mais baixo preço. Mais importante, se não estivermos satisfeitos com o serviço prestado, queremos mudar de prestador de serviços de telecomunicações, tal como mudamos de merceeiro, padeiro ou canalizador.
O Vencedor final será indiscutivelmente o consumidor. Uma maior variedade, serviços mais inovadores e preços mais baixos potenciarão o desenvolvimento da Infra-estrutura Global de Informação, e possibilitarão serviços e ferramentas de comunicação em boas condições económicas e fáceis de utilizar, ao alcance de cada vez mais pessoas em todo o mundo.
O desenvolvimento da Internet durante os últimos três anos, sensivelmente, é um excelente exemplo do que pode ser alcançado num mercado livre. Este sistema, baseado numa rede de redes abarcando o globo, cresceu em apenas três anos, passando do domínio exclusivo dos peritos de informática para um instrumento essencial de marketing e vendas, utilizado por centenas de milhar de profissionais em todo o mundo.
Tal como sucedia anteriormente com o fax, a Internet tornou-se tão indispensável que hoje é difícil imaginar a vida antes da sua existência. Mas é com efeito improvável que tal sistema pudesse ter emergido de uma empresa gerida pelo Estado ou de uma grande empresa privada. A liberdade e a competição têm sido a chave para o desenvolvimento da Internet, e eu espero ver o desenvolvimento de muitas mais ferramentas igualmente úteis, em resultado da liberalização global das telecomunicações.
Na UIT reconhecemos que, embora possa ser excitante a perspectiva de um mercado novo e livre, alguns acharão difícil lidar com as alterações actuais. A ruptura do antigo sistema de repartição de taxas administrativas, em particular, será uma fonte de preocupações para muitos operadores, particularmente os dos países em vias de desenvolvimento. Por esta razão, a UIT organizou recentemente um Fórum Mundial sobre o tema do Comércio das Telecomunicações, com o objectivo de suavizar a transição para novas estruturas de preços e uma nova envolvente reguladora .
O Fórum reuniu representantes dos prestadores mundiais das telecomunicações e outras partes interessadas, que trabalharam para traçar novas estratégias destinadas a superar os desafios dos próximos anos.
Em resultado de tal trabalho, bem como dos esforços da UIT, no passado e nos próximos anos, o futuro apresenta-se realmente muito brilhante para o desenvolvimento da indústria das telecomunicações globais. Esperemos que estas alterações resultem, em última análise, numa maior oportunidade e desenvolvimento das comunicações para toda a população mundial, e conduzam a uma melhor qualidade de vida para todos.
Pekka Tarjanne
Secretário Geral da
União Internacional das
Telecomunicações
