Coreia do Sul


Na Coreia do Sul, 84,2% da população (de 48,5 milhões de pessoas), vive em áreas urbanas, o que tende a facilitar a implementação de redes de comunicações electrónicas.

De acordo com o FTTH Council, este é o país que apresenta a taxa de penetração residencial de fibra óptica mais elevada, situando-se a taxa de penetração residencial do FTTx em cerca de 52%, com a penetração de FTTH a atingir cerca de 16%.

Dados da OCDE, relativos a Junho de 2010, mostram que a Coreia do Sul tem aproximadamente 16,8 milhões de assinantes de banda larga fixa e 46,3 milhões de assinantes de banda larga móvel1, contribuindo para uma penetração conjunta de 34,4 assinantes por cada 100 habitantes.

A fibra, em crescimento, representa cerca de 52% do total de assinaturas de banda larga fixa, sendo que o XDSL se encontra em relativo declínio.

De acordo com as previsões da Ovum Consulting, o número de assinantes de FTTX na Coreia do Sul em 2011, atingirá cerca de 10,5 milhões, tal como mostra a Figura 35.

Figura 35 - Evolução esperada do número de assinantes de FTTH/FTTB na Coreia do Sul

O número de assinantes de FTTX na Coreia do Sul em 2011, atingirá cerca de 10,5 milhões.

Fonte: ICP-ANACOM, com base em Hutcheson (2009)

Os três maiores operadores, a KT2 (Korea Telecom), SK Broadband3 e a LG Powercom4, dominam o mercado de banda larga com uma quota combinada muito significativa.

O peso relativo das tecnologias de acesso no mercado de banda larga em Julho de 2009 é mostrado na Figura 36. O mercado de acesso é dominado pelo LAN (5,3 milhões de assinantes) e HFC (5,2 milhões de assinantes) sendo o XDSL (3,5 milhões de assinantes no total) predominantemente usado pela KT. A FTTH abrangeu 2,1 milhões de assinantes.

Figura 36 - Percentagem de assinantes por operador e tecnologia de acesso à banda larga na Coreia do Sul (Julho de 2009)

Peso relativo das tecnologias de acesso no mercado de banda larga em Julho de 2009.

Fonte: ICP-ANACOM, com base em dados da KCC

A tecnologia usada pela KT na fibra é quase exclusivamente EPON (vide Figura 37), enquanto o operador de cabo SK Broadband, que desenvolve HFC e DOCSIS 3.0, optou pelo GPON.5 De referir que a KT lançou a primeira oferta comercial de FTTH baseada em WDM-PON (Wavelength Division Multiplexing-Passive Optical Networks) no mundo em Maio de 2005, através de um serviço FTTP.6 Em 2007, a KT anunciou um desinvestimento parcial nesta tecnologia por implicar investimentos mais elevados.7

Figura 37 - Assinantes de banda larga da KT de acordo com as diferentes tecnologias

A tecnologia usada pela KT na fibra é quase exclusivamente EPON.

Fonte: ICP-ANACOM, com base em dados de Yoon (2009)

Em termos de FTTH, em Novembro de 2009, o número total de assinantes era de cerca de 2,4 milhões, repartidos pela KT (67%) e SK Broadband (33%).

Para os níveis de penetração que se têm vindo a apontar, tem sido muito importante a abordagem seguida pelo governo.

Em 1987, o governo coreano estabeleceu uma política nacional para o desenvolvimento de tecnologias de informação nos sectores públicos e privados através do "Framework Act on Informatization Promotion".8 Essa lei criou a National Information Society Agency (NIA), com a missão de supervisionar a construção de redes de transmissão de informação de alta velocidade, o uso das TIC pelas entidades governamentais e os programas de promoção do acesso público à banda larga e à literacia digital.

Em 1994, a NIA estabeleceu a Korean Information Infrastructure initiative (KII), com o objectivo de construir uma rede nacional de fibra óptica, tendo o governo complementado este programa com outros programas9, a desenvolver durante cinco anos, que combinavam apoios governamentais com a contribuição do sector privado10 - com o objectivo de desenvolver uma rede NGN integrada permitindo um acesso acessível "anytime" e "anywhere" com convergência de serviços multimédia (telecomunicações, radio e Internet), permitindo fornecer serviços residenciais através de rede fixa entre 50 Mbps e 100 Mbps e assegurar débitos superiores a 1 Mbps para os assinantes do serviço móvel. Adicionalmente, o governo criou várias agências para promover o acesso à banda larga, tanto no sector público como privado.11

A KII foi preponderante no sucesso da Coreia em termos de evolução para as NGA. Este programa estratégico incluiu apoio directo e indirecto do governo para o desenvolvimento de infra-estruturas de banda larga, através de empréstimos e outros incentivos, tendo abrangido três sectores e desenrolando-se em três fases: o sector KII-G (relativo ao governo), o sector KII-P (relativo às empresas privadas) e o sector KII-T (relativo aos testes a realizar pelas entidades ligadas à investigação "Korea Advanced Research Network – KOREN"), conforme se percebe na Tabela 4.

Tabela 4 - Sectores e fases do programa KII

 

KII-G

KII-P

KII-T

Principal interveniente

Governo

Sector doméstico e empresarial

Centros de investigação e universidades

Investidor

Governo

Privados

Governo e Privados

Objectivo principal

Backbone

Acesso

Testes ("testbed")

Fase I

Ligar 80 zonas

Colocação de Fibra nos grandes edifícios

2,5 Gbps entre Seoul e Taejon

(1995-1997)

Fase II

Ligar 144 zonas com serviços de ATM

30% do total de agregados familiares com ADSL OU CATV

GigaPoP12

(1998-2000)

Fase III

Upgrade até Tera bps

Mais de 80% do total de agregados familiares com acesso a ligação de 20 Mbps

Toda a rede óptica

(2001-2005)

Fonte: Lee et al (2001)

O governo investiu 17 mil milhões de euros13 na construção de infra-estruturas básicas ("backbone") para uma rede pública a nível nacional de Internet de alta velocidade, que os operadores poderiam usar para desenvolver ofertas de serviços a cerca de 30 mil entidades governamentais e de institutos de investigação e a cerca de 10 mil escolas. O KII-T permitia o uso pelas empresas de centros laboratoriais de medição e teste para investigação e desenvolvimento. Paralelamente, o sector KII-P trabalhava no sentido de encorajar fundos privados a construir a rede de acesso para lares e empresas, com o objectivo de estimular o desenvolvimento da banda larga na "última milha".

O programa KII, foi suportado em conjunto pelo governo e pelo sector privado, tendo o governo disponibilizado, entre 2000 e 2005, 1,3 mil milhões de euros em empréstimos a custos reduzidos através do "Public Fund Program", enquanto o sector privado investiu 10,8 mil milhões de euros, resultando num investimento público-privado conjunto de cerca de 12,1 mil milhões de euros.14

Adicionalmente, para estimular a procura por banda larga, o governo permitiu que as pequenas e médias empresas usufruíssem de uma taxa de isenção fiscal de 5% do total investido por estas em comunicações de banda larga. Para além disso, cerca de 10 milhões de coreanos foram treinados no uso de TIC.

Desta forma, o governo actuou como a força nacional mais activa para o desenvolvimento da rede, tanto no lado da oferta como da procura.

Este padrão, em que é esperado que o sector privado conduza o investimento em infra-estruturas de banda larga, com o apoio do Estado através de empréstimos e subsídios, continuou a ser seguido com os programas posteriores ao KII. Nos programas IT839 e BCN, o governo disponibilizou mais de 52,2 mil milhões de euros15 em empréstimos a custo reduzido, enquanto aos operadores foi pedido um investimento próprio equivalente.

Outro aspecto que muito contribuiu para o desenvolvimento da banda larga na Coreia do Sul, foi a introdução pelo governo, em Maio de 1999, de um programa de certificação dos edifícios em termos de ligação à Internet de banda larga "The Korean Cyber Building Certificate System" no sentido de acelerar a expansão dos serviços de Internet de banda larga.16

O programa é aplicável a edifícios residenciais com mais de 50 unidades residenciais e a edifícios comerciais com áreas superiores a 3 300 m2, existindo actualmente quatro classes de certificação (1ª, 2ª, 3ª e "premium") para identificar edifícios equipados com 100 Mbps, 10-100 Mbps, 10 Mbps e de 1Gbps, respectivamente (vide Figura 38).

Em termos regulatórios, um dos passos mais importantes foi dado em 2003. O MIC (Ministério da Informação e Comunicações), efectuou uma emenda à directiva de partilha de instalações e equipamentos em vigor, passando a incluir a fibra como um dos produtos grossistas. A directiva estabeleceu regras a aplicar ao operador com PMS (KT), de forma a permitirem o acesso, entre outros, à fibra, linhas alugadas, condutas e postes.

Figura 38 - Sistema de certificação de edifícios na Coreia do Sul

O programa é aplicável a edifícios residenciais com mais de 50 unidades residenciais e a edifícios comerciais com áreas superiores a 3 300 m2.

Fonte: ONA (2009)

Durante este processo de revisão dos aspectos regulatórios relativos à fibra óptica, a KT argumentou que permitir o acesso à fibra de operadores alternativos era inconsistente com políticas de concorrência equitativas, uma vez que a tecnologia de fibra é uma inovação e depende dos investimentos dos operadores. Deste modo, se alguma regulação na fibra fosse imposta à KT, esta alegadamente não teria incentivos para desenvolver a rede de fibra voluntariamente, podendo impedir a desejável migração para a fibra na Coreia do Sul.

O MIC aceitou os argumentos da KT optando por um regime híbrido de regulação da fibra. Deste modo, as obrigações da KT no que concerne à fibra óptica, foram as seguintes:

a) Até 2004, a KT, tinha que permitir o acesso à fibra aos operadores alternativos, com preços grossistas regulados pelo MIC;
b) Depois de 2004, o MIC não imporia ao KT qualquer tipo de regulação a nível de tarifários.

Na sequência do programa BCN, o governo lançou, em Janeiro de 2009, um novo programa17 para uma rede convergente de velocidade muito elevada "Ultrabroadband convergence network - UBCN", a levar a cabo entre 2009 e 2013, para o desenvolvimento da banda larga fixa – débito em casa dos utilizadores de 1 Gbps18 e da banda larga móvel - 10 Mbps. Este projecto definiu o estado de arte a nível mundial. Em 2013, espera-se que a velocidade da Internet, fixa ou móvel, seja dez vezes superior à velocidade actual e a televisão de ultra definição "Ultra Definition TV – UDTV", será quatro a dezasseis vezes mais nítida que a actual televisão de alta definição "High Definition TV – HDTV".

Os objectivos deste programa em termos de desenvolvimento da rede fixa de Internet são os mostrados na Tabela 5. O custo total do projecto estima-se em cerca de 21,3 mil milhões de euros19, sendo que o governo central financiará cerca de 4% desse valor. Prevê-se que este projecto crie 120 mil postos de trabalho.20

Tabela 5 - Objectivos do Programa UBCN para o acesso fixo de banda larga

Rede

2009-2010

2011-2013

Banda Larga (50-100 Mbps)

12 milhões de assinantes

14,5 milhões de assinantes

Ultra Banda Larga (máx. 1Gbps)

N.A.

Serviços comerciais lançados em 2012 e 200 000 assinantes em 2013

Fonte: KCC

A KT planeou investir cerca de 312 milhões de euros21 entre 2008 e 2015, de forma a atingir uma cobertura nacional de FTTH de 100% em 2015 - com uma meta intermédia de 92% em 2010.

O plano de investimento da KT em FTTH para os próximos anos está referido na Tabela 6.

Tabela 6 - Investimento estimado da KT em FTTH22

 

2009

2010

2011

2012

Investimentos em € milhões

37

44

40

39

Fonte: Hutcheson (2009)

Em finais de 2009, foi imposta à KT a obrigação de dar acesso às condutas de exteriores, bem como às instaladas dentro dos edifícios. A KT deverá aumentar a partilha das suas condutas de 5% em 2010 até 23% em 2014.

A Coreia do Sul fez da implementação da banda larga uma questão nacional, emergindo o governo como o agente com maior capacidade para dinamizar a implementação de redes de NGN, actuando quer do lado da oferta quer da procura, envolvendo toda a sociedade através de programas transversais e usando o operador histórico como instrumento privilegiado de implementação da NGN.

A situação na Coreia do Sul é muito diversa da vivida em Portugal, embora de algum modo se identifiquem alguns pontos de encontro com a realidade nacional. De facto, em Portugal, programas como as "e.iniciativas" ou os benefícios fiscais associados à compra de computador têm sido percepcionados como estimulantes para a procura. Por outro lado, para além da resposta dos operadores ao crescimento da procura, em Portugal procuraram também criar-se incentivos à oferta como por exemplo, os concursos NGN nas áreas rurais e o protocolo celebrado entre o Estado e os operadores.

Notas

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style="text-align: left;"> 
1 A operadora SK Telecom, uma das primeiras defensoras da tecnologia WiMAX, anunciou que vai usar a tecnologia Long-Term Evolution (LTE) para lançar serviços 4G em Seul, durante 2011. Embora a operadora não tenha afirmado que abandonou o WiMAX, a nova estratégia da empresa não faz qualquer menção a esta tecnologia.
2 Operador histórico da Coreia do Sul.
3 A SK broadband era anteriormente designada por Hanaro Telecom. Em Fevereiro de 2008, foi adquirida pela SK Telecom que faz parte do grupo SK.
4 A LG Powercom faz parte do grupo LG.
5 Dados da Ovum (publicados em 05.10.2009) - "The regulatory approach to next-generation access: Asia-Pacific".
6 Esta oferta comercial foi antecedida por um período experimental levado a cabo pela KT, entre Setembro e Dezembro de 2003, com 73 subscritores. Este projecto experimental, levou em 2005 à constituição de uma joint venture entre dois fabricantes de equipamentos, a qual, oferece no mercado desde 24.07.2009 a solução WDM-PON Ecosystem. O WDM-PON ainda não está normalizado, permitindo 1Gbps tanto de débito ascendente como de débito descendente.
7 Em Maio de 2009, a LG-Nortel e o organismo governamental da Coreia do Sul ETRI "Electronic Communications Research Institute" assinaram um memorando de entendimento no sentido de promoverem a normalização da tecnologia WDM-PON.
8 Framework Act on Informatization Promotionhttp://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/APCITY/UNPAN025688.pdf.
9 Cyber Korea 21 em 1999, e-Korea Vision 2006 em 2002, IT Korea Vision 2007 em 2003 e em 2004 os programas IT 839 (também designado por "u-Korea Master Plan") e Broadband Convergence Network (BCN).
10 O BCN tem prazo de realização entre 2004 e 2010.
11 Foi criada a "South Korean Agency for Digital Opportunity –KADO": para assegurar que todos os cidadãos tinham competências para aceder à internet especialmente os cidadãos com necessidades especiais (idosos e deficientes) - através de programas de formação específicos; a "Korea Information Security Agency – KISA" e a "Korea internet Safety Commission” para supervisionar a segurança na internet e a protecção dos consumidores; e a "National internet Development Agency – NIDA" para promover a sociedade da internet através da educação e levar a cabo programas promocionais ("PC for Everyone" em 1996, "Cyber Korea 21" em 1999 para promover a literacia digital e o comércio electrónico.
12 Gigapop, abreviatura de "gigabit point-of-presence" (ponto de presença da rede Giga).
13 24 mil milhões de dólares dos EUA (ao câmbio de 04.02.2010).
14 16,3 mil milhões de dólares dos EUA (ao câmbio de 04.12.2010).
15 70 mil milhões de dólares dos EUA (ao câmbio de 04.12.2010).
16 Regulatory Affairs Advisory Committee - Development of Broadband Infrastructure in Hong Konghttp://www.ofta.gov.hk/en/ad-comm/raac/paper/raac04_2009.pdf.
17 A Coreia do Sul tem lançado desde 1987, uma série de programas para desenvolvimento do sector das comunicações, com vários a decorrer simultaneamente e a contribuir para o êxito no crescimento da banda larga. Em 1987, foram lançados os programas "Measures to nurture IT Industry (1987-1995)" orientado para a indústria e "National Basic Information System (1987-1996)" focado na administração, defesa, segurança pública, finanças e educação. Em 1995, foi iniciado o programa "Korea Information Infrastructure Initiative (1995-2005)" focado no desenvolvimento de uma rede nacional de informação de muito alto débito. Em 1996, espoletou-se o "National Framework Plan for Information Promotion (1996-2000)" focado em dez áreas prioritárias, com um plano anual de acção. Em 1999, foi lançado o programa "Cyber Korea 21 (1999-2002)" centrado no desenvolvimento de uma visão para a sociedade do conhecimento e em 2002 foi lançado o programa "E-Korea Vision 2006 (2002-2006)" visando a maximização das habilidades de todos os cidadãos no uso das TIC. Vide http://www.itu.int/osg/spu/ni/promotebroadband/presentations/03-kelly.pdf.
18 Este valor é de débito ascendente e de débito descendente e corresponde a uma velocidade dez vezes mais rápida que a actual.
19 24,6 mil milhões de dólares dos EUA (ao câmbio de 09.02.2010).
20 IT plan calls for big spending, jobshttp://joongangdaily.joins.com/article/view.asp?aid=2900490.
21 500 mil milhões de won da Coreia do Sul (ao câmbio de 09.02.2010).
22 Investimento em milhares de milhões de won da Coreia do Sul: 2009 – 60, 2010 – 70, 2011 – 65 e 2012 – 62 (ao câmbio de 09.02.2010).